domingo
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Debaixo do hábito levo um conjunto escarlate com aplicações de renda. Na pele o desejo e o aroma de um perfume.

Bato ao de leve na porta que nos separa. Abres-ma. Entro.

Procuras-me a boca. Dou-ta. As mãos - qual malabaristas de circo - entrelaçam-se em complicados esquemas e adentram-se nas vestes, apoderando-se da pele alheia. Pegas-me ao colo e deitas-me na cama. Deixo-me ficar. Cobiças-me com esse olhar matreiro de menino. Continuo deitada. As mãos bailam-me pelo corpo, provocando-te. Em silêncio deitas-te ao meu lado e, vagarosamente, os teus lábios passeiam por mim. As tuas mãos acompanham agora as minhas num ritual de sedução. Sinto o teu corpo másculo subindo para o meu. O teu desejo é duro, forte, grosso e a tua boca come-me a carne como se a fome de comer viesse de há muitos séculos. Viro-me para ti e chamo-te ao prazer entreabrindo as pernas. Vens e eu deixo-me ir. Investes. Investes. Investes. Gemo. Gemes.

No chão, lado a lado, jazem juntos o hábito e a batina.



Na paz do Senhor
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sexta-feira


São rubros os lençóis de seda, esperando ser amarrotados por ti. São rubras as rosas que, uma a uma, derramaram as suas pétalas, despindo-se para ti.

É rubro o meu desejo. Faltas apenas tu. Ainda.

A espera aguça-me todos os sentidos. A minha pele agoniza pelo teu toque, o coração bate-me descompassado, a saliva seca-se-me na boca, ansiando pelo manancial da tua. E faltas tu, apenas tu.

Ouço passos…
Não sei se os ouço verdadeiramente ou se os imagino. Sei apenas que os quero ouvir.

Entretanto, como um papinho de anjo.

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In nomine Dei


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quarta-feira
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Eu, investida pelo poder de Deus Nosso Senhor como Madre Superiora do Convento da Trácia, venho informar todos os penitentes, romeiros, missionários e demais visitantes que, por motivos de desratização, este memorial convento se encontrará encerrado até que a satânica praga esteja totalmente exterminada, assim continue connosco o favor divino.



In nomine Dei
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segunda-feira
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Devido à sucessiva ingestão de doses cavalares de afrodisíacos na tentativa de satisfazer a sua doce, jovem e muito amada baronesa, o Barão da Trácia - encontrando-se num estado de total debilidade e temendo pela descanso da sua alma - mandou-me chamar para, por via das dúvidas, lhe administrar a extrema-unção.

Enquanto unjo e sacramento o barão, o meu olhar escorrega para a linda baronesa que junto à cama permanece e dou comigo imaginando-me a massajá-la com os santos óleos.

Ai doce baronesa, de joelhos, entre as tuas pernas que adivinho bem torneadas e macias, derramo por ti este divino néctar que deslizando te invade cada poro. Delineando-te, circulando-te, dedilhando-te, percorro com as minhas mãos cada centímetro da tua pele e com a minha boca sorvo cada partícula da celestial essência agora perfumada por ti.

E, desfeito em meus pensamentos, juro ouvir um suspiro prazenteiro saído da boca da baronesa.

Ouço-o e quero-o.

Mas por agora só imagino.


Vade recto satanás!




quinta-feira
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Depois do encontro frustrado pela Madre Superiora, a noviça, tentando acalmar os ânimos, ocupa-se na leitura de uma brochura de arte antiga. Ainda que na maioria das imagens mal foque a vista porque os seus apetites são outros, o olhar prende-se-lhe numa reprodução de Leda e o Cisne e dá por si protagonizando o que, atenta e libidinosamente, observa.

Leda era uma jovem e bela noviça que em certas noites de lua cheia se escapulia do convento para se refrescar no rio. Retirava o hábito e banhava-se nas serenas águas, que deslizantes lhe passeavam pelo corpo nu, revisitando cada esconderijo.

Certa vez, Zeus – que andava neste mundo metamorfoseado em Padre Confessor - reparando na bela noviça, esconde-se para contemplá-la de longe. Preso aos seus encantos, mas temendo assustá-la com a sua gloriosa e potente figura, Zeus - na tentativa de cortejar a jovem - mais uma vez se transforma, convertendo-se num belo cisne.

Ao ver o esplendoroso animal a aproximar-se, Leda senta-se e começa a observá-lo. Diante dos seus olhos, o maravilhoso espécime empina-se e começa a mover as suas belas plumas com grande excitação, movimentando o corpo numa dança frenética que evidencia o seu olímpico desejo. De súbito, começa a acariciá-la provocando-lhe leves arrepios à passagem das suas plumas pela sua alva pele. Com suaves bicadas, percorre-lhe o corpo, procurando-lhe os recantos mais íntimos e abrindo as asas, escorrega por ela.

A doce noviça não se move, fascinada e amortecida pela divina sedução e, nem acreditando, afasta os joelhos devagar, abrindo–se ao cisne desabrido que, lentamente, se adentra nela.

E assim se amaram.
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segunda-feira
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Não conseguindo dormir, a Madre Superiora resolve ir à cozinha provar qualquer delícia. Ao passar pelo corredor dos cómodos repara que o quarto do Padre confessor ainda se encontra iluminado e resolve bater-lhe à porta para se aconselhar.


- O Senhor Padre desculpe o adiantado da hora, mas a minha alma está mortificada e necessito descansá-la.

- Por quem sois, Madre, disponha dos meus serviços se de alguma maneira lhe puder ser útil.

- Sabe, Senhor Padre, quando os nossos olhos se encontraram o senhor despertou-me recordações antigas, imagens distantes que eu pensava já ter fechado a sete chaves. O Senhor Padre lembra-me demasiado uns olhos castanhos profundos e um sorriso doce que conheci há muitos anos. E eu que pensava já ter o invólucro da alma em profundo descanso, dou agora comigo sentindo ainda o calor do corpo dele passando para o meu, guardando na minha boca o paladar do seu beijo, recordando-lhe a suavidade do toque e a urgência em ter-me. E a minha atenção e o meu corpo ficam presos nestes momentos e não consigo pensar em nada mais.

- Sabe, Senhor Padre, há quase trinta anos que trago comigo esta carta. Enviou-ma ele, dias antes de fazer os votos, mas agora não passo uma noite sem relê-la. Na quietude do meu quarto, busco nestas palavras algum conforto e revejo, também aqui, aqueles olhos castanhos e lábios doces.

Dizendo isto, desdobrou uma pequena folha de papel amarelecida pelo tempo, que leu em voz saudosa.


“… Tu és a luz do sol nascente, chegando pelo norte. És a folha do vento impulsionando a folha. És o recanto que eu quis, a mão que aponta o verdadeiro caminho, o horizonte, a flor, o céu e o espinho. És o fogo que arde nas minhas entranhas e que me aquece no inverno. És a beleza do mar, és o gosto do amor, a tentação, a vontade, o desejo. És a vida inocente, o prazer de um presente. És o porto, o oásis, a esperança, a volta, a calma da paz, o turbilhão da revolta. És ternura, respeito, verdade, segredo. És o meu ar, meu espaço, meu céu, meu amor. És o meu pensamento vagando pelo tempo. És um desejo, ansiedade. Quem sabe tu és um beijo? A atracção de um olhar, uma estrela, o cheiro da maresia.
És tudo, enfim… tu és somente tu... meu grande amor!"

- Vê o triste estado em que me encontro, Senhor Padre? Que me aconselha para delapidar tais delírios?

- Tisanas, minha Madre, tisanas, Padres Nossos e banhos frios.






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sábado


Na cozinha do convento a noviça, sob a vigilância das freiras responsáveis por essas artes, aprende os segredos das delícias conventuais.


Entretida entre charutos, suspiros, pitos, marmeladas, barrigas e papinhos de freira, ais, esquecidos (ou talvez não), bons bocados, orelhas de abade, viúvas doces, velharocos e até sopapos do convento misturados com as delícias do Frei João, a noviça só se apercebe da presença do hortelão quando ele lhe toca no braço e lhe faz um sinal para que a acompanhe.

- O Sr. Padre Confessor pediu-me que lhe entregasse isto - diz-lhe, passando-lhe para as mãos um pequeno embrulho.

A noviça esboçou um sorriso de agradecimento e afastou-se, procurando um recanto mais escondido para se descuriosar.

Com cuidado, desatou o rubro laço e retirou o papel que envolvia o embrulho. Dentro estava um livro de horas. Com a ponta dos dedos acariciou-lhe a capa e, aproximando-se um pouco mais, tentou sorver-lhe os últimos resquícios do cheiro das mãos que antes o tinham manuseado.

Abre-o e, acomodado entre duas pétalas de rosa escarlate, estava um bilhete, que rezava assim:

Se pudesses sentir o que na minha mente desejo, saberias que quero que me aprisiones com a tua língua húmida e que a tua saliva vista a minha pele nua. Saberias que quero embriagar-me com o aroma da tua pele e que aspiro ouvir de ti, em voz gritada, que és minha.

Vem viver, morrendo nos meus braços. Espero-te à meia noite no meu quarto.


Com o bilhete lambendo-lhe os seios e aguçados todos os sentidos, a noviça percorre a vontade que os separa a passos largos.





Graças a Deus!




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terça-feira



Na cela da Madre Superiora o brilho da lua cheia, demasiado cheia para uma mulher só, acorda recordações e anseios.


Olhou-se de cima a baixo. Reviveu o seu corpo, outrora delineado e perfeito. Observou as suas mãos, antes, de dedos longos e finos e agora, deformadas e manchadas pela idade. Esboçou um esgar que lhe avivou ainda mais as rugas e naquela noite jurou matar o desejo que ainda vivia dentro de si.

Mas porquê esta luxúria oculta que teima em subir por mim e se abriga, ainda, neste corpo gasto. Porquê esta vontade de vida? – perguntou-se.

Às vezes, nas noites mais solitárias, imaginava um roçar breve no pescoço, uma carícia ousada nas virilhas, um corpo quente junto a si e desejava que o seu Divino Esposo lhe desbravasse as montanhas, secasse os rios, abrisse os mares e navegasse com ela.



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segunda-feira

Após as vespertinas, seguiu-se um jantar culminado de olhares incandescentes e perturbadores. O corpo, mordendo-me de desejo, obriga-me a levantar da mesa. Ao percorrer a sala, dirigindo-me para a porta, sinto o olhar dele cravado em mim. Não olho para trás.


No jardim, encontro um lugar recatado e, procurando refrescar o calor que ainda me tortura, deito-me na terra húmida. Sorvo-lhe os cheiros e, acariciando-a com a ponta dos dedos, sinto-lhe a textura fresca e sadia.


No céu adivinha-se uma lua que há-de ser cheia. Cheia de encantos, auspicio. E os meus pensamentos retornam àqueles olhos que me deixam fora de mim. Dou por mim tocando-me. Insana - condeno-me em pensamentos - e cruzo as pernas com força, tentando afastar-me a fome.


Repentinamente, oiço o estalar de um tronco e pressinto que alguém me observa.




Louvado seja o Senhor
!




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domingo


Perdoai-me, Senhor, porque pequei.



Na obscuridade do vão da janela do seu quarto, o padre confessor observa a bela noviça que, no claustro do convento, deitada na frescura da sombra de um arbusto, pacada e recatadamente, descansa.


Ai, deusa minha
pudesse eu crucificar-te
trespassada por mim.



Vade recto, Satanás!



sábado


In nomine dei

Vem comigo, desejo apresentar-te ao novo capelão – diz-me a madre superiora. Sigo-a curiosa porque a notícia do novo confessor correu célere no convento.

- Noviça, este é o capelão que te servirá e a quem deverás confessar os teus mais ínfimos pecados, para regozijo e descanso da tua alma.

Sim, madre - assinto, submissa.

 

Meus olhos percorrem o rosto moreno, emoldurado por uns cabelos longos e negros. A barba rala parece existir para o simples pressuposto de ser roçada e uns olhos, uns olhos tão belos, sedutores e poderosos que suspeito conseguirem ver dentro de mim. Debaixo da batina, adivinha-se um corpo viçoso e perfeito.

Olha-me… e os seus olhos ardem quando se encontram com os meus e um calor intenso apodera-se de mim.

- Muito prazer, cara noviça.

Cuida a distância com um aperto de mãos. Mas sentir a sua mão na minha, no meu tacto, pesou-me mais do que um beijo na face. Este, seguramente, passaria mais rápido e não me demoraria tanto nos pensamentos.

- Disponha do que lhe aprouver…

- Assim farei, Sr. Padre, assim farei, prometo.

De relance olho para trás e vejo que também me observa. Esboço um sorriso. Retribui.

Vamos rezar muito juntos, penso.





quinta-feira


Perdoai-nos, Senhor, porque pecamos.



Boas Marias

cheias de graça

juntai-vos a nós



os pecadores


Vade recto, Satanás!







Perdoai-me, Senhor, porque pequei.



Encontro-te na cama enredada nos lençóis que te revelam a silhueta perfeita. A tua respiração pausada mostra-me que te encontras perdida em longínquos sonhos. Deito-me ao teu lado e afago com os meus dedos a tua face. Beijo-te devagarinho, percorrendo o espaço que medeia os teus olhos e a tua boca. Mexes-te um pouco, sei-te acordada, fingindo-te adormecida. Mergulho na tua boca a minha, que, sedenta, busca a frescura do teu beijo. Afagas-me o cabelo. Ai como gosto que me mexas no cabelo. A minha mão desce por esses seios que adoro de tão perfeitos e viçosos. Trinco-te delicadamente os mamilos e passo, mil vezes, a minha língua em seu redor. Estremeces. Sei que gostas. Conduzes-me a mão para o teu sexo, quente, húmido, desejoso de mim. Não, ainda não - digo-te. Abro-te e com a minha língua principio uma dança delicada. Contorces-te, gemes e o teu sexo parece querer saltar-me da boca, preparando-se para mim. Enlaças-me com força, prendes-me e fundes-te comigo.

Começamos um voo que só parará quando os nossos corpos soluçarem de prazer.



 
Vade recto, Satanás, por tão pecaminosos pensamentos!



quarta-feira


Perdoai-a, Senhor, porque pecou.

Maria é puta. Não acompanhante, prostituta ou garota de programa. É puta, p-u-t-a mesmo. É ainda mais puta do que as outras putas que conheço porque trabalha mais que nenhuma.

Passa por nós como nós passamos por ela: breves, ligeiros, casuais, sem deixar história nem rasto.

Orgulha-se de cumprir regiamente o que leu num livro. Sabe que bastam sete minutos e meio para satisfazer um homem. Não oito, mas a quantia exacta de sete e meio, por isso, quando lhe pedem, diz que não faz descontos nem adiantos e que se não foi, tivesse ido, se não veio, tivesse vindo.

Maria é produtiva, não discrimina, não rejeita, aceita tudo, aceita todos e dá-se toda mas não inteira. Guarda para si o desgaste, o vazio e a esperança de uma casa caiada de branco, com sardinheiras nas janelas e uma macieira no quintal.





Perdoai-me, Senhor, porque pequei.


À hora marcada, despes as palavras ao som da vida.

Dependendo da música, umas vezes danças com elas, dás-lhes voltas, sopra-las e deixa-las cair suavemente como se de vidro fossem.

Outras vezes, morde-las, rasga-las e cospe-las com violência.

Os meus olhares perdem-se em ti e tu vais, lentamente, continuando a despir a alma. Contra todas as expectativas e sem qualquer aviso, seguras - com os dedos longos de unhas vermelhas - a última palavra e jamais a soltas.

Ai, mulher rubra, deixas-me sempre água na boca.

Vade recto, Satanás!


terça-feira

Perdoai-me, Senhor, porque pequei.


Abre-se a porta. Baila no ar uma música suave. Um perfume almiscarado desperta-me para a tua presença. Recostada nas almofadas do leito, abres, lentamente, os olhos. Observas-me. Observo-te. O parco e diáfano tecido das tuas vestes, revela-te as formas perfeitas e a pele leitosa. Passo pela jarra e colho uma rosa branca. Aproximo-me. Olho-te nos olhos e percorro-te os finos traços com a flor. Prende-la com a boca. Ris-te e sacodes os longos cabelos negros, naquele gesto já tão habitual. Cresço por dentro. Estendes-me as mãos. Estendo-te as mãos. Enlaço-te a cintura e aperto o seu corpo contra o meu. Danças comigo? - pergunto-te, sussuradamente. Suspiras e acompanhas-me na dança. A excitação do momento conduz-nos os lábios, que húmidos, trilham nos corpos estradas de nós e cresce-nos um fogo que se espalha por todo o quarto.


Vade recto, Satanás!






Perdoai-me, Senhor, porque pequei.

Percorro rapidamente o caminho que me leva até ti. Desejo trilhar com as minhas mãos a estrada do teu corpo. Olho-te, mais do que te olho, admiro-te. Os meus olhos param nos teus seios. Belos. Acaricio-os com o olhar. Suspiras e dedicas-me um sorriso malandro, intenso e doce.

Teu corpo perfeito parece esperar por mim.
E este tremor que sinto por dentro, carece de ti.

Seca-se-me a boca, os teus seios gulosos parecem querer saltar para as minhas mãos e elas, movidas de vontade própia,  quase não conseguem parar. Dizes-me que é tarde. Que vais, que tens de ir. Prometes voltar, mas não sei se o farás.

Vade recto, Satanás!





Perdoai-me, Senhor, porque pequei.

Sonhei-te quando ainda não te sabia. Fui as cordas do teu violino, vibrando de prazer ao teu toque. Fui uma escala musical e soubeste-me de cor. Fui a rosa que prendeste no cabelo e de onde aspiraste o delicado perfume. Fui o espartilho que te envolveu a pele e comandou o percurso dos teus seios.

Hoje, sou todas as lembranças que ainda não tive de ti.

Muito prazer em conhecer-te, miúda.

Vade recto, Satanás




A sensualidade é como o perfume. Duas gotas, a perfeição. Um frasco inteiro, uma overdose de enjoo.

ADVERTÊNCIAS:

1. todas as fotos publicadas no blogue foram retiradas da net, desconhecendo-se-lhes os créditos. Se alguma delas estiver protegida por direitos de autor, queiram informar os responsáveis pelo blogue e imediatamente serão retiradas do mesmo.

2. em nenhum momento se pretendeu ferir susceptibilidades relativamente a credos ou religiões.



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